A verdadeira alegria do cristão

Abordar o assunto “tristeza” muitas vezes, ou quase sempre, tem sido um problema para nós cristãos. Muitas pessoas se questionam: “Por que Deus permitiu isso?”, “Por que isso aconteceu justo comigo?”. Alguns se decepcionam com Deus e outras chegam ao extremo de até odiá-lo. Na Bíblia, entretanto, encontramos não poucos exemplos de pessoas que passaram por lutas terríveis e seus momentos de tristeza (Abraão, Moisés, Davi, Daniel e o próprio Cristo), mas um de seus livros tem como cerne um debate e reflexões acerca do “problema do mal”, o livro de Jó.

O sofrimento de Jó e a maneira como ele se posicionou perante o acontecido é algo que nos comove: Jó era um árabe, não judeu, íntegro e reto (Jó 1:1); alguém de quem Deus se orgulhava (Jó 1:8); possuía incontáveis riquezas e muitos filhos com quem se relacionava em confraternidade e amor (Jó 1:2-4); Satanás levou tudo de Jó, destruiu sua riqueza, matou seus filhos e deixou sua saúde em situação precária. Para se ter uma idéia melhor do que foi o sofrimento e humilhação passada por Jó, veja algumas das conseqüências da ação de Satanás na vida dele:

·         Uma doença (provavelmente elefantíase) cobriu todo corpo dele (Jó 19:20);

·         Teve mau hálito, e um cheiro repugnante (Jó 19:17);

·         Isto levou Jó a sentar-se fora da cidade, no monturo, lugar onde se queima lixo (Jó 2:8);

·         Jó, com um caco se raspava de tanta dor (Jó 2:8);

·         As chagas criadas pela doença deram vermes (Jó 7:5);

·         Essas chagas encheram de rugas o corpo de Jó, enquanto o emagrecia (Jó 16:8);

·         Ele tinha terríveis pesadelos (Jó 7:14);

·         Suas noites eram longas, o sono já não era mais um prazer e sim um fardo (Jó 7:14,15)

·         Seus dias eram cheios de agonia (Jó 7:1-4);

·         Seus ossos queimavam como fogo (Jó 30:30);

·         E os sentia como deslocados (Jó 30:17);

·         Era humilhado até por crianças (Jó 19:18).

Mesmo diante de tanta tristeza, dor perda e humilhação Jó dá duas respostas que surpreendem até hoje quem lê o livro, demonstrando o caráter, a confiança e o amor de quem amava realmente a Deus: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei. O Senhor me deu, o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21) “Se recebemos o bem de Deus porque não iríamos receber também o mal.” (Jó 2:10).

Infelizmente, posições como essa de Jó perante o “sofrimento” são raras exceções e o que temos visto nos dias de hoje é exatamente o oposto. Primeiramente porque nos falta um caráter íntegro e reto como o de Jó e também devido ao fato de vários “cânceres” existirem em no meio cristão, teorias e idéias anti-bíblicas que ao longo dos últimos anos tem sido ensinadas em nossas igrejas como “teologia da prosperidade”, “maldição hereditária”, “batalha espiritual tipo Matrix”, “confissão positiva” entre outros ensinamentos (gnósticos) que fazem o cristianismo parecer místico. Dessa forma, colocando tudo no “plano espiritual” associa-se todo mal ocorrido em nossa via a algo espiritual.

O problema é crônico. Certa vez recebi um jornalzinho da Igreja Universal contendo no final um testemunho de um pastor que indo para um país na América do Sul foi parado por uma blitz policial por falta de documentos. Diante da situação o pastor clama: “Senhor, sou dizimista fiel! Eu exijo uma solução!”. Eu caí na gargalhada quando li e mostrei para meus pais e outros cristãos que também riram diante de tamanho absurdo teológico. Um certo domingo após o culto, estava junto de amigos de minha idade conversando sobre dado assunto e contei o que li no jornal pra eles. Para minha surpresa, todos eles ficaram contra mim e a favor testemunho do jornal! Disseram: “devemos ser fiéis dizimistas e fazer prova de Deus quando precisarmos”.

Os ensinamentos gnósticos corroem os verdadeiros ensinos bíblicos e tapam nossas vistas para a realidade! Ora, esse pastor foi parado na blitz por culpa dele, não por ação nenhuma espiritual! O policial que o parou apenas cumpriu seu dever, pois esse motorista sem documentos podia muito bem ser um criminoso. E Deus diante disso, não tinha nenhuma obrigação de fazer nada! E esse pastor, quem pensa que é para chegar de maneira imperativa perante o Deus Soberano e exigir dele uma coisa???

Ensina-se que o cristão tem direito a saúde e riqueza; com efeito, doença e pobreza são maldições da lei, aquele que permanece doente é porque não reivindica seus direitos ou não tem fé. Enfatizam muito que o crente deve ter carro novo, casa nova (jamais morar em casa alugada!), as melhores roupas, uma vida de luxo. Devemos, segundo eles, declarar, profetizar e receber as promessas de Deus. E no caso de ser dizimista, devemos fazer prova de Deus.

Simples não!? Mas do que adianta declarar e profetizar uma boa saúde se levo uma vida sedentária, sem fazer exercícios e comendo o que não deve? Do que adianta declarar e profetizar sucesso financeiro se não procuro emprego, ou sou um péssimo funcionário, ou não me preocupo com meus estudos, faculdade e crescimento profissional? E sendo dizimista, por acaso eu não estou fazendo nada mais do que minha obrigação? Notamos então o quanto esses ensinamentos gnósticos deturpam a verdadeira idéia bíblica de vida cristã, e um conceito que acaba sendo muito distorcido é a “alegria”.

Alguém está sofrendo? Está em pecado! É necessário se arrepender, pagar um preço e as janelas do céu se abriram e os celeiros serão fartos! Quantas vezes já não ouvi pregações assim? Com efeito, algumas jovens ficam com “odiozinho” de Deus porque um namoro não deu certo; outros blasfemam e sentem decepcionados com Deus, pois a conta vem sempre no vermelho no final do mês mesmo sendo eles dizimistas fiéis. Ora! Deus por acaso é cupido ou fiador de alguém? A Bíblia é muito clara sobre nossa realidade e é antônima a esse “mundo imaginário” ensinado hoje em dia:

·         "No mundo, tereis aflições" (Jo 16:33)

·         Paulo viveu doente (1 Co 4:11; Gl 4:13)

·         Seus companheiros adoeceram (Fp 2:30)

·         Timóteo tinha uma doença crônica (1 Tm 5:23)

·         Trófimo ficou doente (2 Tm 4:20)

·         Paulo diz que aprendeu a contentar-se com o que tinha (Fp 4:11,12; 1 Tm 6:8)

·         Jesus disse que a vida não se constitui de riquezas (Lc 12:15)

·         Paulo advertiu para o perigo das riquezas (1 Tm 6:7-10)

O verdadeiro conceito de “alegria” e “sofrimento” é bem diferente do ensinado hoje, mas é bem simples! São reações aos acontecimentos de nossa vida, do nosso dia-a-dia e pouco tem a ver com o “espiritual”. Você está sujeito a sofrer um acidente de automóvel, a ser atropelado, a se afundar em dívidas se não administrar bem seu orçamento, a ter os movimentos do seu braço comprometidos ao tirar sangue se uma enfermeira errar o local onde enfiar a agulha como aconteceu com uma amiga essa semana, etc. Todas essas situações que podem te trazer tristeza ou sofrimento acontecem aqui, na nossa vida cotidiana. Por que Deus permitiu? Porque Ele não quer interferir no curso natural dos acontecimentos e nem tirar sua liberdade.

Por fim, uma das maiores virtudes que podemos ter é enxergar a “alegria” em meio ao mar de coisas adversas como foi no caso de Jó. Em Neemias encontramos: “Portanto não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a nossa força” (Ne 8:10). “Alegria do Senhor” é exatamente isso, enxergar seus problemas e ver, por mais difícil que possa ser, a soberania de Deus no controle; é agradecer a Deus tendo ou não o pão de cada dia; louvá-lo com ou sem saúde.

Em I Reis 8:12 Deus diz que pode habitar na obscuridade, portanto se estamos em momentos obscuros, devemos ali também buscar a Deus e não tentar acha desculpas ou justificativas para nossa tristeza! Não podemos nos conformar com o mundo, nem com o que não é certo, devemos renovar nosso entendimento e experimentar a perfeita vontade de Deus que é boa pra nós (Rm 12:2).

Use sua tristeza como forma de louvar a Deus! Pode parecer louco para alguns mas os sábios entenderam.

Por: Eliel Fernandes Vieira

@vieiraeliel